Toda terça e quinta, por volta das 18h aguardo a ligação de Rodrigo dizendo: “Ei hoje tem jogo, avise a fulaninho...”. Após esse ato britânico cumprido religiosamente, me preparo: janto mais cedo, separo a roupa de jogo e às 10h rumo para o Sesi para bater mais um “raxinha”.
Muito bom o tempo ali que passo jogando bola. A comunhão, a oração no início, a resenha pós-jogo e ainda o prazer psicológico de estar perdendo alguns quilinhos. Mas, porém e entretanto nunca parei para pensar (alíás, após viver na pele, apenas ignorei) como é a rotina de quem marca o jogo, de quem liga, de quem paga antecipadamente para que naqueles dias e hora marcada todos possam chegar lá e jogar.
No início organizei alguns jogos, mas faz algum tempo. Sei como é, mas nessa matéria vou me deter apenas a atualidade.
Hoje temos a seguinte rotina: Rodrigo às terças e quintas a tarde sai de seu trabalho, vai ao SESI e marca o jogo pagando R$ 40,00 pela hora. Após isso ele liga para cerca de 15 a 20 pessoas informando que: “hoje tem!”. O “raxa” se inicia com uma oração no centro da quadra, depois cerca de 4 times jogam em partidas de 7 minutos e ao final de 1 hora (dependendo do vigia) se reúnem no lado de fora do SESI para pagar o jogo. Rodrigo arrecada o dinheiro de cada um (R$ 3,00 ou R$ 5,00) e assim alguns vão para casa e outros rumam para o Sebosão.
Essa é a rotina de um jogo da Jucem. Para quem somente joga a rotina se resume em jogar, pagar e pegar o rumo. Mas para hoje Rodrigo, mas antes Thiago, Arthur, Fernando, Fábio, João Paulo, Neto Queiroz e até uma mulher: Hellen: o que eles pensam sobre ter que ligar, cobrar, marcar jogo.
Entrevistamos informalmente Rodrigo e ele nos mostra como é o futebol da JUCEM: o outro lado.
Como é ter que sempre marcar os jogos?
“Toda terça e quinta tenho que vir aqui e marcar o jogo. Antes era R$ 35,00, hoje tá a R$ 40,00 a hora. Tenho sempre que pagar adiantado e na hora arrecadar do povo...”
Todo mundo paga direitinho?
“As vezes. Mas tem muitas vezes que tenho que tirar do bolso e pagar. Já teve jogo de Eu, Fulano e Fulano pagarmos o jogo todo por que não teve gente suficiente.”
Não e chato ter que ligar todo dia avisando o que todos já sabem?
“Se eu não ligar, no outro dia reclamam que eu não disse que ia ter jogo, que não foram por que não sabia. Eu aviso na terça que vai ter jogo quinta e mesmo assim reclama que eu não liguei. Toda terça e quinta já é certo ter, então nem era para eu ligar.”
Ao ser indagado sobre deixar de organizar, Rodrigo brinca:
“Tá dando prejuízo, vou passar pra outro. Rsrsrsr. Não mais eu marco sem problema, não tem besteira não!”
Vendo o lado de Rodrigo, eu que já organizei, sei o quanto é chato as vezes ter que deixar de fazer suas obrigações para organizar jogo para seu fulano e seu sicrano chegar lá jogar ir embora e ainda reclamar que o raxa tá acanalhado e tudo mais... mas sei o que se passa na cabeça de Rodrigo quando foi perguntado se queria deixar de organizar e dizer de forma receosa, que não!
O prazer e a felicidade de ver todos os irmão em Cristo, que convivem com você na casa de Deus, que se tornaram sua família estarem todos ali jogando, se divertindo, orando, conversando (onde hoje não se tem mais tempo para isso), brincando... é maior que as chateações, que os contratempos, do que o dinheiro “perdido”... realmente não tem preço... igualzinho aquela propaganda..