Foi numa noite chuvosa, em que me encontrava sozinha em casa, lendo algum livro qualquer, ouvindo uma boa música, que elas bateram à minha porta. E eu abri. Sim, eu abri. Oh, como me arrependo. Elas estariam melhores lá fora, mesmo na chuva e no frio. Mas eu dei um espaço para elas. Por baixo das capas de chuva, não pude ver que eram feias. Mas fiquei com pena. Disse que ficassem a vontade, que poderiam se sentir em casa, e elas, levaram ao pé da letra. Foi quando eu retornei com xícaras de chá, quentinhas, que eu as vi. Sob a luz, sem as capas, eu as vi. E elas começaram a se apresentar. Falaram seu nome e seu endereço. Endereço? Eu própria. Elas habitam dentro de mim! Seus nomes.. ah, como eu queria esquecer.
Rebeca, Ingrit, Alda, Charlene, Malvina..
E cada vez que uma dessas garotas dizia seu nome, eu via meu rosto refletido no seu. Como se elas fossem espelhos, pior, meus espelhos. Não entendia o que era tudo aquilo. Seria um sonho? Uma alucinação? Deve ter sido porque eu comi muito chocolate, estou passando mal, só pode. Malvina olhou pra mim e disse que não, que aquela era a realidade. Foi a primeira vez que eu tive coragem de perguntar por quê? Por que tudo isso? Quem elas eram de verdade.
A própria Malvina começou respondendo: Sou a Malvina, seu lado mau. Sua personalidade que você tenta esconder dos outros. Aquela que você pensa que ninguém sabe que existe, mas eu tô ali. Me alimento dos teus pensamentos maus, aqueles que você não tem coragem de colocar em prática. Desmaiei. Quando abri os olhos, surgiu um alívio, aquilo havia sido um pesadelo. Foi quando ouvi barulhos vindos da cozinha. Lá estavam elas, preparando o jantar.
-O que você vai querer comer querida? Perguntou Fabiane, a falsa. As outras riram. Ela continuou: Sou seu lado falso, que se alimenta da mentira, que se alimenta do seu sorriso falso. Sobrevivo da sua hipocrisia. Sou eu quem coloca uma máscara em você, cada vez que você entra na igreja. Mas sou eu quem a tira, quando ninguém vê. E todas querendo falar ao mesmo tempo. Foi ai que Charlene e Daiane mandaram as outras ficarem quietas, porque era a vez delas falarem.
“Sou a chata – Charlene falou- e Daiane minha irmã é a implicante, e juntas, fazemos você querer as coisas do seu jeito e implicar com a vontade dos outros. Desejamos ansiosamente que a sua (nossa) vontade prevaleça.
Quanto mais eu as conhecia, menos eu gostava daquelas garotas, mas o que mais me apavorava era o quanto elas se pareciam realmente comigo. Elas descreviam cada detalhe da minha vida, coisas que só eu sabia. Bom, eu e minhas personalidades. Agora, elas estavam ali diante de mim. Tão reais. Passei muito tempo as alimentando, sem me dar conta do tamanho que elas poderiam obter. E o desfile continuou com Ivy dizendo que queria aquela casa, que queria o meu carro, queria ter meu emprego, meu cabelo…; compreendi que ela era a inveja, meu lado invejoso, que até cobiça os bens dos outros.
Apareceu Alda reclamando do tempo, da chuva, da casa; Alda, segundo ela, era a mau-humorada. Eu, nos dias que reclamava de tudo. Ainda teve outras, que não vale a pena citar. São feias demais. E elas continuavam a falar sem parar. Até que o jantar foi servido. Por alguns minutos, um pouco de silêncio. Mas de repente, Ingrit se levanta. E eu chocada observo o que vem a seguir. Ela cospe no prato. Eu começo a me sentir mal de novo, e antes que possa dizer qualquer palavra ela olha para mim e fala:
-Por que está tão chocada? Você faz a mesma coisa todos os dias. Prazer, sou Ingrit, a sua personalidade ingrata. Aquela que não sabe o valor da palavra ‘obrigada’. Sou eu quem faz você ser mal agradecida. E sendo assim, você dá vez a minha irmã, Rebeca, a rebelde. Ela faz com que você se ache dona do seu próprio nariz. E faz com que você não queira depender de ninguém. Nem de seus pais e nem… dEle!
Sabe, tenho um segredo pra te contar. Nós não gostamos dEle! Porque Ele quer nos mudar, Ele quer que viremos o oposto do que somos, e isso, não podemos aceitar. Mas morreremos se você não nos alimentar. Suas atitudes, suas palavras, seus pensamentos são nosso alimento. Mas Ele chega no nosso endereço (você) e quer mudar tudo isso. Não, não aceitaremos isso. Somos sua carne, nos alimente por favor?! Por favor! Por…
Pesadelo terrível. Culpa dessa gripe que me deu febre.
“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.” Gálatas 5:17-25
Fonte: Não Morda a Maçã
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