Espera o microondas apitar. Sacode o pé com inquietação. Espera que aumenta a fome. Uma espera de 3 minutos que parece a eternidade. Espera o carro terminar de abastecer e acelera. Espero não pegar chuva no caminho, porque diminuir a velocidade hoje não está nos planos. Parar de sonhar com o dia em que as esperas vão acabar, também não. Chamam todas as senhas, menos a minha e a fila só cresce. Tem algum erro nesse sisteminha de vocês aí. Não. Tá tudo errado, espera. Espera um pouco. No meio do caos da cidade na segunda feira vi a mesma grávida pela segunda vez e ela sorria, calma. Impossível não reparar nela. De baixa estatura, mas de uma grandeza que vinha de dentro e explodia em sorrisos e suspiros. Balança o pé, numa canção. Cara, essa mulher não tem nada de outro mundo, mas essa calma sim. Presta atenção nela. Com a mão apoiada na barriga, não com cansaço, mas com confiança. Seu sorriso deixa claro que a espera na fila é o que menos a incomoda. Ela está esperando algo maior. E se você espera algo maior, com aquela alegria, as outras milhares de pequenas esperas não são nada.
Por que a mulher tem que esperar 9 meses até pegar seu filho nos braços e finalmente tocá-lo. O que essa espera faz crescer além da barriga? O que a barriga traz além do bebê?
Como disse Eugene Peterson, a espera não nos diminui, assim como não diminui a mulher grávida. Nós nos dilatamos durante a espera. Eu percebi que a espera causa amor, nela causava amor, não agonia. A espera infla o coração e o prepara pra ter espaço pra mais um sonho palpável, realizado, real. Carrega vontade de se doar por outro ser, de gerar vida nova. Fiquei com a cena na cabeça o resto do dia e pensar nisso me trouxe questões que responderam tudo. Aquela minha inquietação de antes não era pressa. Na verdade, era vontade de ter pelo que esperar. Era a invejinha boa que tinha da grávida. Eu queria também um propósito que impulsionasse meus passos. Mais do que uma lista de coisas a fazer, eu precisava de uma lista de motivos pelos quais abrir meus olhos de manhã, todos os dias. Não com saudade do que não veio, nem com lamento de quem não vê, nem crê. Mas simplesmente de olhos abertos, como quem sonha. Se me perguntassem a causa da minha esperança, eu deveria responder sem pensar, sem pesar. Porque não é um fardo pesado que eu quero carregar, não. E não vou. Porque é um fardo leve que ele quer que eu leve. Se a esperança me enche, a espera não me cansa. Eu quero sorrir que nem aquela grávida. Eu quero esperar sorrindo. Eu tenho um bom motivo.
Fonte: Não Morda a Maçã
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